Sapere Aude! Ouse saber! 1

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Atenção à única guerra que precisa vencer

Caro(a) leitor(a), é possível que considere este artigo muito longo.

Simplesmente por o achar aborrecido ou tão só porque sofre de défice de atenção.Calma, não se trata de diagnóstico clínico, apenas um sintoma dos tempos em que vivemos, em que se busca incessantemente estímulos e distrações a um ritmo frenético, um acúmulo de informação que nos açula o interesse por breves instantes e logo necessita de ser substituído por outro, pois já ficou velho. O mesmo processo se extrapola para muitos contactos e relações humanas. A resposta emocional suscitada tem de ser imediata e precisa, à medida das necessidades de cada um ou sujeitando-se a se tornar desinteressante, o que pode ser bastante frustrante, e o é na realidade.

Em 1784, Immanuel Kant, grande figura do iluminismo, proclamou num panfleto “Sapere aude!” Ouse saber! Assevera-nos que “esclarecimento é a saída do homem de sua menoridade, da qual ele próprio é culpado. A menoridade é a incapacidade de fazer uso de seu entendimento sem a direcção de outro indivíduo.

O homem é o próprio culpado dessa menoridade se a causa dela não se encontra na falta de entendimento, mas na falta de decisão e coragem de servir-se de si mesmo sem a direcção de outrem. Tem coragem de fazer uso do teu próprio entendimento, tal é o lema do esclarecimento”

(…) “se for feita então a pergunta: vivemos agora em uma época esclarecida? A resposta será: não, vivemos em uma época de esclarecimento. Falta ainda muito para que os homens, nas condições actuais, tomados em conjunto, estejam já numa situação, ou possam ser colocados nela, na qual em matéria religiosa sejam capazes de fazer uso seguro e bom do seu próprio entendimento sem serem dirigidos por outrem. Somente temos claros indícios de que agora lhes foi aberto o campo no qual podem lançar-se livremente a trabalhar, e tornarem progressivamente menores os obstáculos ao esclarecimento geral ou à saída deles, homens, de sua menoridade da qual são culpados”.

Troquem religião por ciência ou cidadania, e eis-nos saídos numa máquina do tempo do iluminismo no…Iluminismo…acrescido de uma parafernália tecnológica.

Bem, posso estar enganado. O iluminismo pretendia quebrar os grilhões que sujeitavam o homem, o momento actual fustiga-nos com o mais profundo obscurantismo.

Foi no “The New York times” que um opinador profissional de seu nome Charlie Warzel, ao dia 18 de Fevereiro de 2021, ano do senhor, vazou a seguinte divisa, pedra de toque da civilização obscurantista “Não desça na toca do coelho – pensamento crítico, como fomos ensinados a fazer, não está a ajudar na luta contra a desinformação”.

Resumidamente, afirma que o objectivo da desinformação é capturar atenção, e pensamento crítico é atenção profunda. Respaldado em especialistas, discorre sobre como o nosso tempo é precioso e que faríamos melhor em correr uma rápida pesquisa no google sobre personagens e alegações polémicas fora do consenso científico das primeiras chamadas do google e dos fact checkers, pois no fim do dia não somos especialistas no assunto e só vamos ficar mais confusos e propensos a ser enganados. O cândido conselho que fica é: não se incomodem em querer chegar aos factos, têm o google e os administradores das plataformas sociais que trabalham incansável mente com os fact checkers, e estão ali para vos proteger e fazer isso por vocês, poupando o vosso precioso tempo. E não menos importante… Estarás a proteger os outros da desinformação.

Voltamos assim à colocação inicial: a atenção.

Quando o cérebro é continuamente inundado de informação, a atenção focada torna-se um problema sério, inibindo o acesso à inteligência. A pessoa despeja informação de memória, criando um falso sentimento de se possuir muito conhecimento. Informação é memória, e memória é apenas um recurso da consciência. A ânsia por informação cria uma aversão à atenção, a estar presente de forma consciente, conectado com a realidade. Da atenção plena nasce a compreensão e inteligência que dá forma à memória, para que possa ser utilizada de forma efectiva e útil e se torne conhecimento. A atenção fica assim capturada neste ciclo vicioso de hiper-estimulação adverso à reflexão e aprofundamento.

A autoridade que o Estado e media ocupam no inconsciente das pessoas paira contudo acima de qualquer outro factor primordial porque nos tornámos tão permissiveis à manipulação. Toda a cultura e educação está inserida no fomento deste poder.

Acrescente-se a narrativa do medo, instilado pela repetição incessante nos meios áudio-visuais, para implantar ideias e induzir comportamentos. Verdadeira Hipnose de massas e programação neuro-linguística que transpõe diretamente o crivo da razão objectiva.

Comunicação social, fact checkers, são hoje os guardiões do templo da verdade, onde só entram as organizações e indivíduos (comentadores, especialistas, etc.) que eles querem e quando querem. São incensados num dia, noutro ignorados, dependendo da conformidade da mensagem à narrativa pretendida.

Lembremo-nos da OMS, alcandorados a autoridade máxima na declaração da pandemia e remetidos ao esquecimento os seus artigos na página oficial sobre a inutilidade das máscaras em pessoas saudáveis e do alto índice de falsos negativos dos testes Rt-PCR. Cometeu a heresia de afirmar que transmissões de assintomáticos eram raras, sofreram o anátema da linha fundamentalista da comunidade científica apoiada pela furiosa comunicação social, e logo depois abjurava para voltar ao púlpito radiante de pureza após as necessárias abluções.

A dissonância cognitiva constante criou já no público a aptidão de aceitar tudo e o seu contrário. Esta é a nova normalidade, em que a contradição é dogma de fé. Este é o vestíbulo para além do qual tudo é possível e qualquer orador investido de autoridade sacrossanta pode salmodiar a sua prédica sem fazer má figura. Basicamente consiste em difundir cognições contraditórias para obrigar a mente a criar novos pensamentos e crenças ou modificar as pré-existentes para acabar com o conflito cognitivo gerado. Para encorajar usam-se figuras públicas respeitadas para modelar o comportamento desejado e reforçar necessidade de pertença e conformismo.

Exemplos: alocam-se todos os recursos do SNS para os doentes COVID-19 e morrem tantas ou mais nesse período por não tratamento imediato fora as que morrerão no futuro pela paragem das consultas de rastreio e cirurgias urgentes;

confina-se toda a população indistintamente para salvar as vidas dos mais debilitados, criando com isso miséria e um retrocesso económico e social de décadas com inerentes problemas psiquiátricos, mas durante décadas instituiu-se como dado adquirido o direito das pessoas a dispor do seu corpo, envenando-o com tabaco, gorduras trans, etc. (como atestado pelas milhares de mortes anuais por condições de saúde inerentes), dando o Estado a sua permissão a este comércio e ainda retirando benefício económico do mesmo

não me perguntem qual o percurso cognitivo despoletado pelo medo que as pessoas arranjam para conciliar este tipo de realidades opostas, que eu não sei, está muito além da minha diminuta compreensão . Mas desconfio que o terror implantado dispense até a necessidade de cotejar quaisquer incongruências. E depois claro, há a habituação em doses progressivas ao longo de anos a lidar com contradições insanáveis.

Engenharia social é uma hidra de múltiplas cabeças que ataca por diferentes métodos. Seleccionar, amplificar a informação desejada, omitir ou desqualificar à conta de fake news todo o seu contrário já foi referida, talvez a mais clássica.

Na crise de saúde vigente, o contraditório e o confronto de ideias científicas e de políticas de saúde pública é quase inexistente e nunca permitido em toda a extensão dos factos, irrestritamente. O ataque pessoal é muitas vezes a opção preferida, cerceando-se o debate público ao ar livre e salutar da democracia, do qual muita gente com alto valor científico é afastada ou se prefere afastar.

Não se trata de teoria da conspiração caro(a) leitor(a). O próprio Secretário Geral das Nações Unidas, António Guterres, proferiu no dia 22 de Fevereiro de 2021 na 46 sessão regular dos direitos humanos as seguintes afirmações:

“Usando a pandemia como pretexto, as autoridades de alguns países implementaram respostas de segurança severas e medidas de emergência para esmagar os dissidentes, criminalizar as liberdades básicas, silenciar a reportagem independente e restringir as atividades de organizações não governamentais.
Defensores dos direitos humanos, jornalistas, advogados, ativistas políticos – e até profissionais médicos – estão sendo detidos, processados ​​e submetidos a intimidação e vigilância por criticarem as respostas do governo à pandemia – ou a falta delas.

Restrições relacionadas à pandemia estão sendo usadas para subverter
processos, enfraquecer as vozes da oposição e suprimir as críticas
Às vezes, o acesso às informações que salvam vidas do COVID-19 foi ocultado – enquanto a desinformação mortal foi ampliada – inclusive por aqueles que estão no poder.”

Esta excerto da comunicação passou praticamente despercebido na comunicação social.



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