PLACEBO 1

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Placebo é um medicamento, terapia ou procedimento inerte (sem propriedades farmacológicas) que apresenta, no entanto, resultados terapêuticos devido aos efeitos psicológicos da crença do paciente de que está a ser convenientemente tratado.

Está amplamente estudada a maneira como uma sugestão associada a uma expectativa, por parte do médico, do paciente ou de ambos, pode induzir mudança no estado de saúde12 3.

Um dos conceitos indissociáveis ao placebo é a neuroplasticidade4 . O outro é a atenção plena, focada na nossa própria mente, vendo e moldando o seu desempenho5.

Com estes, respectivamente, mecanismo e ferramenta criamos novas conexões neuronais mudando, literalmente, o cérebro. Quando este se altera transformamos a mente678.

Sabemos, através da PNEI-psiconeuroendocrinoimunologia9, que cérebro e mente chegam ao corpo todo.

O nosso cérebro é a sede de uma empresa farmacêutica formidável (no bom e mau sentido) que, governada pela mente, distribui remédios por todo o organismo.

Lissa Rankin, médica norte americana, descreveu em 2013 que faltava aos cuidados de saúde que ela aprendeu uma coisa absolutamente crucial, o reconhecimento de que o corpo possui uma capacidade inata para se auto curar e restaurar, podendo nós aceder e comandar esse mecanismo com o poder da mente.

Os pensamentos, crenças e sentimentos alteram a fisiologia do corpo (PNEI). Solidão, pessimismo, depressão, medo e ansiedade prejudicam e danificam o corpo.

Enquanto que relações íntimas, gratidão, meditação e uma autoexpressão autêntica accionam e aumentam o mecanismo de auto cura, promovendo a criatividade e espiritualidade10.

Tal como Lissa Rankin descreve no seu livro, também eu tenho a alegria de conhecer e colaborar na recuperação de pacientes que fazem o seu próprio diagnóstico, prescrevem a receita e criam um claro plano de acção com o objectivo de ajudar o seu corpo a curar-se facilitando o trabalho do médico.

Se estamos permanentemente tristes, zangados, com sentimentos de frustração ou de vítima, vivemos um longo relacionamento sempre com as mesmas emoções e activamos diariamente a mesma rede neural11, criando um vício bioquímico.

Se bombardeamos a célula com uma atitude (bioquímica) semelhante todos os dias, quando esta se divide tem mais receptores para esse comportamento, que se torna familiar e automático.

Criamos, sucessivamente, situações idênticas para nutrir as necessidades bioquímicas das nossas células.

O vício necessita sempre de um pouco mais daquilo que o alimenta. Se não conseguimos controlar o nosso estado emocional é porque estamos dependentes dele.

Quando damos por nós, cansados e descontentes, com algum aspecto da nossa vida é sensato parar e procurar ajuda. Não fazer este exercício mantém-nos frustrados e com uma sensação de fracasso.

O estado de aflição e/ou exaustão tem sentimentos de autopiedade e autoindulgência, que podem levar à prática da indiferença como forma de protecção e minar a relação com o próprio e com o outro.

Este é um contexto muito perigoso onde não se deve permanecer.

Pensar de modo diferente leva a novas escolhas, novos comportamentos, novas experiências e novas emoções que, por sua vez, originam novos pensamentos.

É assim que quebramos a continuidade e vício bioquímicos renovando o eixo PNEI.

Será? E se o caminho para controlar o nosso sistema nervoso for ao contrário?

O neurocientista Andrew Huberman concluiu, no seu laboratório, que o cérebro se modifica quando procedemos a uma alteração do comportamento e, em  consequência, os nossos pensamentos, sentimentos e percepções mudam.

O comportamento é concreto e torna-se o painel de controlo para o resto quando queremos mudar algum hábito.

A disposição (estado de espírito) segue a acção! Não adianta ruminar ou pesquisar quais são as nossas motivações.

Se queremos mudar começamos por agir.

O movimento traz a recompensa bioquímica necessária que nos mantém na acção.

Este é o lado positivo do stress. Vivemos a persona que projectamos no mundo12

Veja aqui a parte 2 deste artigo: https://www.aliancapelasaudeportugal.com/2021/03/07/placebo-2/

Dra Cristina Pinho
Aliança Pela Saúde Portugal

  1. Lemoine, Patrick (2015) “The Placebo Effect: History, Biology, and Ethics”. Disponível em: http://www.medscape.com/viewarticle/852144, data de consulta 28 fevereiro 2021. []
  2. Walia, Arjun “People Are Taking Placebo Pills to Deal With Their Health Problems & It´s Working” TIME; setembro 2018 []
  3. Lipton, Bruce “Los pensamentos curan más que los medicamentos”. Disponível em http://www.elcorreodelsol.com/articulo/los-pensamientos-curan-mas-que-los-medicamentos, data da consulta 28 fevereiro 2021. []
  4. Neuroplasticidade: capacidade do sistema nervoso se adaptar e moldar, mudando a nível estrutural e funcional, ao longo do desenvolvimento neuronal e quando sujeito a novas experiências. Esta caraterística única faz com que os circuitos neuronais sejam maleáveis e está na base da formação de memórias e da aprendizagem bem como na adaptação a lesões e eventos traumáticos ao longo da vida adulta. O nosso cérebro tem capacidade para alterar as suas ligações sinápticas e manter um estado mental modificado. A neuroplasticidade permite alterar os nossos comportamentos de forma a ter um melhor desempenho na vida. []
  5. Williams, Mark e Penman, Danny (2015) “Mindfulness  ATENÇÃO PLENA”, lua de papel. []
  6. Siegel, Daniel (2010) “mindsight”, Oneworld. []
  7. Doidge Norman (2007) “The Brain that Changes Itself”, Penguin Books. []
  8. Duhigg Charles (2013) “THE POWER OF HABIT”, Random House Books. []
  9. Psiconeuroendocrinoimunologia é o estudo das interacções entre o comportamento e os sistemas nervoso, endócrino e imunológico. Surgiu após conhecimento de que os sistemas que regulam o corpo não trabalham de forma autónoma. Existe uma troca de informação contínua e bidirecional entre eles. São sistemas totalmente interligados entre si e o que sucede num deles afecta, invariavelmente, os outros. []
  10. Rankin, Lissa (2013) “MIND OVER MEDICINE Scientific Proof That You Can Heal Yourself”, Hay House. []
  11. Rede neural: Grupos de neurónios que se activaram juntos e ligaram entre si constituindo uma comunidade de ligações neuro-sinápticas relacionada com um determinado conceito, processo mental, memória, competência, comportamento, acção. []
  12. Huberman, Andrew (2020) “Change Your Brain” Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=SwQhKFMxmDY&t=15s, data da consulta 28 fevereiro 2021. []

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6 comentários em “PLACEBO 1

  1. Sérgio Oliveira Responder

    Cara Dra. Cristina Pinho e todos os membros desta Aliança que muito respeito: ao contrário do que era sabido até há pouco e que escreveu o seu artigo, o cérebro não é “governado” pela mente. De facto o processo de distribuição de “ordens” e “mensagens” é feito pelo cérebro, que atua como um “painel de controlo”, mas pesquisas recentes afirmam que não é o cérebro a fonte dessas decisões. O cérebro é o “maestro” sim, mas limita-se a seguir a “partitura” porque esta é “escrita” pelo coração, o órgão que toma as decisões e que as distribui para os restantes sistemas. Esta conclusão é do Heart Math Institute.
    Aliás, ainda no final da década de 90, o Dr. António Damásio, a sua esposa e outros colegas, demonstraram que o processo de decisão é essencialmente inconsciente e que é realizado 4 a 10 segundos antes de chegar à consciência.
    O Placebo é o melhor “medicamento” que podemos ter e o mais barato. Assim as pessoas tomem consciência do poder do seu corpo.

    • Dra Cristina Pinho Responder

      Muito grata pelo seu comentário. Mais adiante terá essa informação. Este artigo foi dividido em 5 partes ….. muito extenso e com diversas facetas …. onde é contemplado esse primordial aspecto 🙂
      Curiosamente não falo no Heart Math Institute (que sigo há muitos anos) mas vai dar ao mesmo
      Bem vindo
      Vamos falando à medida que os artigos forem saindo ……..

  2. Cláudio Conde Responder

    Obrigado pelo vosso trabalho, que é de Louvar 😊🙏💝
    Concordo com o efeito placebo a 100%, e fico feliz por saber que conhecem o trabalho do Heart Math Institute, do qual tenho o prazer de pertencer, pois sou um dos Heart Math Coach, do Instituto.
    Sem dúvidas que precisamos de abrir as nossas mentes e permitir que o Maestro da orquestra (o Coração 💓), possa nos devolver o poder que temos dentro de nós, mudando toda a química (hormonas) e tornando nos seres Saudáveis, Felizes e Harmoniosos com tudo o que nos rodeia 😊🙏💝

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